Sem prejuízo do que já escrevi anteriormente sobre a minha forma de encarar a política actual, ultimamente tenho reflectido frequentemente sobre como a forma de fazer política tem vindo a alterar.
Há várias décadas atrás, não só em Portugal, quando os reis governavam os povos, a política era feita através da ostentação do rei. Um rei tinha de ser puro, clarificado, visto como acima da média, destemido e interessado. Era o mais qualificado para exercer e essa qualificação estava-lhe no sangue. Podia não ter nenhuma destas qualidades, mas ver o rei passar era uma festa quase tão grande como ter comida em casa.
Depois, as monarquias foram-se extinguindo e passámos a ter formas de governo republicanas quase democráticas. Fazia-se campanha, algumas pessoas morriam, ganhavam uns, morriam mais outros. Os candidatos votavam. Vários países passaram por repúblicas ditas democráticas ou absolutas. Até há relativamente pouco tempo, só mudava a designação.
No entanto, hoje em dia não é fácil fazer política. Já não ganha quem ter o maior armamento bélico.
Já não se faz campanha distribuindo autocolantes. Os autocolantes são aqueles que aparecem ao lado de algum candidato, querendo subir à força em algum cargo que nem sequer sabe que vai ser criado.
Já não se faz campanha com automóveis pintados a fazer passar mensagens. Hoje, os carros são apenas pintados de preto metalizado e ai de quem toque na pintura.
Já não se beijam crianças. Não entendo o porquê da extinção desta prática costumeira. O "Bibi" nem sequer era político.
Já não se pára na rua a ouvir as preocupações das pessoas. A TV, os jornais, a Internet, os cartazes são a forma mais pessoal de chegar aos cidadãos.
Já não se discutem ideias de fundo. Se um candidato tem uma ideia, o candidato opositor tem de discordar dela.
Aliás, as ideias são tantas que os eleitores são bombardeados com palavras, mensagens e inovações de tantos candidatos que os mais desatentos não conseguem perceber em que facção política os candidatos se encontram. Importante é todos quererem o bem do país. E a quantidade de ideias, claro.
Manifestações; jantares; confiança política; debates; outdoors; entrevistas; notícias; boatos; sorrisos forçados; apoios; maquilhagem; financiamentos; cábulas; marketing; amigos; programas; perucas; ideias todas iguais.
Todos estes motes são integrantes na campanha de qualquer político. E encontram-se tão proximamente que os perfis dos candidatos se tocam.
E o eleitor fica confuso.Tão confuso que não irá votar. Ou votará em branco. Ou nulo. Ou num político que se afaste de tudo o que escrevi.