Qualquer amigo do fenómeno político não pode ficar alheado do rapto da miúda inglesa, a Maddie. Quem quer que diga que tudo é assunto policial, que se trata de uma rede pedófila a nível internacional, que há contrabando de orgãos à mistura... Tudo não é mais que uma questão política, nas suas vertentes mais críticas: Economia, Justiça e Relações Internacionais. As razões económicas são conhecidas: qualquer incidente que tenha lugar no Algarve poderá assustar os principais clientes das praias a sul do país. Depois, há o óbvio impacto da notícia: cadeias internacionais a falar mal da polícia portuguesa, contra-informação...não estudei o suficiente as ciências económicas para saber como foi afectada a confiança na marca Allgarve, mas suspeito que não sai bem na foto. Justiça: a pedofilia, ou o tráfico de seres-humanos e respectivos orgãos, seja o que for, não estão a ser devidamente combatidos. Não é que haja ilusões: o crime será eterno. Mas, neste particular, é gritante. Foi grande o alarido, foi bem merecido. A nível interno, não se castiga como se devia castigar. A nível internacional, igualmente. Será, porventura, um resquício, dispensável, de uma certa antiguidade clássica, do qual se exige extinção. Por fim, no tocante a relações internacionais, parece-me que a relação que serve de base à mais velha aliança do mundo não sai muito beliscada. Terá havido o bom-senso de não confundir as coisas, de misturar e colocar no mesmo saco um incidente que podia ter acontecido em qualquer lugar do mundo, a incuria dos pais, e alguma incompetência lusa, no capitulo da resposta ao rapto. Hoje, soube-se de mais uma pista, que pode levar à pequena. Como sempre, aguarda-se.
Quanto ao desaparecimento de Maddie, só quero dizer duas coisas:
- Já não posso ouvir falar do seu nome nem da notícia. Seria mais relevante falar-se, como o Duarte bem referiu, das áreas que abarcam este tipo de situações (economia, relações e cooperações internacionais, segurança interna, etc). Mas não, fala-se de uma miuda que desapareceu. Sob pena de ser apedrejado em praça pública, sou indiferente ao facto de a menina aparecer ou não. Existem milhares de pessoas desaparecidas, milhões de pessoas que morrem diariamente. Não conhecia a pequena, não lhe desejo mal, mas se não aparecer nunca mais, não fico sem dormir.
- Parece-me, na minha modesta opinião, que, se se tratou de um rapto, toda esta mediatização (que até levou o papa a receber os pais de Maddie!) vai conduzir a que a menina nunca mais apareça. Ou que apareça sem vida. Vejamos: A sua cara é conhecida em todo o mundo, o raptor não a pode levar a lado nenhum. Mesmo que queira entregá-la, sabe que se assim o fizer, será encontrado. Não poderá vendê-la, nem explorá-la, nem trocá-la. Só a pode esconder. Assim, para alguém que seria condenado por uma pena de vários anos de prisão, qual seria a melhor solução? Esperemos apenas que não a tome.
Benvindo ao Blog do Núcleo de Estudantes Socialistas da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, local de discussão política e fraterna, à esquerda da indiferença, mas sempre no centro da participação.