Sexta-feira, 13 de Junho de 2008

Crise de representatividade: o descontentamento em geral com a política (2)

Como disse no texto anterior, a crise económica teve um peso fundamental para este Não, já que é visto como um voto de descontentamento este referendo. O problema é, no entanto, mais profundo, segundo me parece.

 

A verdade é que as pessoas em geral, a nível mundial, se sentem descontentes, desconfiadas e um pouco traídas pela classe política. Existe, de facto, uma crise de representatividade do povo na classe política: também este um dos factores que leva a juventude a afastar-se da política, esse grande problema de que o presidente da República se queixava. A população mundial sente que a classe política se tem mostrado incapaz de resolver os problemas que nos afectam, há quem acuse mesmo os políticos de pouco fazerem para isso, crescendo o sentimento de desigualdade, mesmo de incapacidade de melhorar a vida em geral, elevando a máxima, antiga do povo português: « os ricos continuam a enriquecer, os pobres continuam pobres« ( sintoma disto é a opinião daqueles que defendem que a escravatura nunca acabou, apenas se mudou o nome para empregados).

 

Apesar de ser uma imagem um pouco radical, consigo compreender o desespero e o grito de revolta do povo. A classe política não tem, infelizmente, por agora, conseguido resolver problemas estruturantes da sociedade: continuamos a ter pessoas muito pobres, pessoas ricas de mais, problemas sociais, económicos, problemas de sustentabilidade e humanitários no mundo. As pessoas estão fartas de George W. Bush's, de Pedro Santana Lopes, que ficou agora provado ofereceu propriedade pública (caso Casino Lisboa), ou Paulo Portas, que em tantos anos de política nada fizeram que seja alvo de elogio. A política já não é vista como a defensora do povo. É vista como a defensora de interesses.

 

Este governo tem, no meu ponto de vista, pagado por este descontentamento, por tudo o que estava feito anteriormente. Estamos a viver a maior crise desde o 25 de Abril, a opinião pública está farta de constantes desilusões, e o governo que herdou esta situação difícil, paga por tabela. Não digo que seja um governo perfeito, mas acho que tem sido o melhor de muitos anos para cá, tem respondido como o país pode às várias vicissitudes que nos aparecem pela frente.

 

O povo precisa de esperança: sintomático disso mesmo é a escolha de Barack Obama para candidato pelo Partido Democrata nos EUA. Precisa de uma classe política preocupada com o povo em si e não nos interesses das grandes empresas, preocupado em dar possibilidades para todo e qualquer cidadão ter uma boa vida. Faltam nesta sociedade os valores de Igualdade, Fraternidade, Solidariedade...os valores de justiça social que levaram por exemplo ao 25 de Abril. O povo grita por respostas...por soluções. O povo grita por mudança.

 

Cabe à classe política lutar por mudar esta imagem. Cabe à classe política procurar dar essas respostas e soluções. Cabe aos políticos dar esperança para a mudança.

 

PS: sobre o actual estado da democracia portuguesa, um artigo muito interessante aqui, n'0 Jumento.

publicado por Luís Pereira às 18:14
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